22/1/21

 

Pegadinha gramatical

O professor Dílson Catarino explica:

"Eles pensaram que o Brasil era o Maranhão."


Qual a inadequação gramatical acima?

Esta frase está na capa de uma das principais revistas semanais de informação do país, publicada em 14 de abril de 2002. A inadequação gramatical presente a ela é a conjugação do verbo "ser" no tempo denominado pretérito imperfeito do indicativo (era), enquanto deveria estar conjugado no pretérito imperfeito do subjuntivo (fosse).

Vamos à explicação: há três modos de conjugação de verbos na Língua Portuguesa: indicativo, subjuntivo e imperativo.
O verbo estará no imperativo quando indicar ordem, pedido, conselho, súplica ou apelo, como nas frases seguintes: Venha até aqui! Traga-me este livro, por favor. Pense antes de falar. Não me machuque! Tenha piedade!
Estará no subjuntivo quando indicar desejo, hipótese ou dúvida, como nas seguintes frases: Espero que ele venha até aqui. Se ele se alimentasse melhor, certamente seria mais forte. Quando você vier aqui, iremos ao cinema.
Estará no indicativo quando indicar fato certo, fato que, com certeza, acontece, aconteceu, acontecia, aconteceria ou acontecerá, como nas seguintes frases: Ele veio aqui ontem. Se ele se alimentasse melhor, certamente seria mais forte. Quando você vier aqui, iremos ao cinema.

Os modos indicativo e subjuntivo são divididos em três tempos: presente, pretérito (passado) e futuro.

No modo indicativo, existem os seguintes tempos:

Presente do indicativo: fato que acontece com freqüência: Ele vem aqui com freqüência. Todos os dias, caminho seis quilômetros.

Pretérito perfeito: fato que aconteceu no passado e se estagnou: Ele veio aqui ontem. Conversei com Pedro sobre esse assunto.

Pretérito imperfeito: fato que acontecia com frequência no passado ou que ocorria ao mesmo tempo em que outro aconteceu: Ele vinha aqui todos os dias. Naquela época, o Brasil era menos violento. Enquanto o professor falava, o aluno saía sorrateiramente.

Futuro do presente: fato que acontecerá certamente: Amanhã, ele virá aqui. Quem será o futuro presidente? Quando você vier aqui, iremos ao cinema.

Futuro do pretérito: fato que aconteceria se outro não houvesse ocorrido antes: Ele viria aqui, se o pai não houvesse impedido. Se ele se alimentasse melhor, certamente seria mais forte.


No modo subjuntivo, existem os seguintes tempos:

Presente: desejo ocorrido no presente: Espero que ele venha aqui.

Pretérito imperfeito: hipótese, condição - neste tempo, a frase é iniciada pela conjunção se ou caso: Se ele se alimentasse melhor, certamente seria mais forte. Caso ele viesse aqui, encontraria Maria.

Futuro: dúvida futura - neste caso, a frase é iniciada pela conjunção se ou quando: Quando você vier aqui, iremos ao cinema. Se eles se prepararem, conseguirão o intento.

Obs: Existem outros usos dos tempos verbais além dos apresentados.

A frase apresentada pela revista indica uma hipótese, e não fato concreto. O verbo não deveria, portanto, estar conjugado no pretérito imperfeito do indicativo, e sim no pretérito imperfeito do subjuntivo, ficando assim estruturada:

"Eles pensaram que o Brasil fosse o Maranhão".

Dílson Catarino leciona gramática na 3ª série do ensino médio e no cursinho pré-vestibular do Colégio Maxi, em Londrina (PR). Também é gerente pedagógico e de editoração da Maxiprint, gráfica e editora, e palestrante do Sistema Maxi de Ensino. Veja outras dicas de gramática no site do professor.