21/11/11

Namorar é bom de qualquer jeito...

Do Blog Sobre Palavras de Sérgio Rodrigues (colunista revista Veja). Consulta do leitor

Namorar alguém ou namorar com alguém?
    “Quero saber o uso correto de ‘namorar’. Quando eu cursava o 2º grau, diziam que a expressão ‘Fulano vai namorar com sicrano’ era incorreta, porque indicava que fulano iria namorar próximo a sicrano, cada um com seu par. No caso, o uso correto não seria ‘Fulano vai namorar sicrano’? Agradeço a oportunidade.” (Eudes Júnior)

A consulta de Eudes é simples, mas ilustrativa. Infelizmente, nunca estiveram em falta na galeria dos tipos humanos aqueles que gostam de dar palpite furado tanto na vida amorosa quanto na língua dos outros, e no caso do verbo namorar os dois gostos se fundem num só.
 
Namorar é uma palavra que deriva de enamorar (en+amor+ar) com a perda do fonema inicial, um fenômeno linguístico chamado aférese, mas isso não vem ao caso aqui. O que importa é saber que, dependendo do uso, namorar pode ser transitivo direto, transitivo indireto ou mesmo intransitivo. Direto: “Ele a namorou”. Indireto: “Ele namorou com ela”. Intransitivo: “Eles namoraram”. Pode ser até pronominal, com o sentido de “encantar-se” – “namorou-se dela” – mas este uso é pouco comum: normalmente, para dizer isso, opta-se por “enamorar-se” mesmo.

Uma grave desatualização ou apego excessivo à famigerada “norma padrão” explica o ensinamento errado que Eudes recebeu na escola e que muitos professores, infelizmente, ainda espalham por aí, inclusive transformando a questão em pegadinha nas provas. Recomenda-se cuidado com eles. O fato é que o verbo namorar surgiu no século 13 e tudo indica que só passou a ser aceito no português culto como um verbo transitivo indireto de cem anos para cá. No entanto, convém repetir o que diz o Aurélio, um dicionário que está longe de ser conhecido como avançadinho nessas questões: “O uso de namorar com esta regência [namorar com] é perfeitamente legítimo, moldado em casar com e noivar com”.

Ah, e não se trata de uma liberalidade brasileira, é bom frisar. O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa também admite a regência “namorar com”.

20/11/11

Domingo no Parque

"Domingo no Parque" é uma das obras que fundaram o movimento Tropicalista, que tem como autor o cantor e compositor Gilberto Gil. Trata-se de uma música narrativa, que conta a história de dois rapazes amigos: um deles é José, o rei da brincadeira, e o outro João, o rei da confusão.


 Esse trecho foi extraído da versão executada no Festival Internacional da Canção da Record, de 1967, quando Gil dividiu o palco com o jovem grupo de rock chamado Os Mutantes.

Domingo no Parque
Gilberto Gil


O rei da brincadeira
Ê, José!
O rei da confusão
Ê, João!
Um trabalhava na feira
Ê, José!
Outro na construção
Ê, João!...


A semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi prá Ribeira jogar
Capoeira!
Não foi prá lá
Pra Ribeira, foi namorar...


O José como sempre
No fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo
Um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio...


Foi no parque
Que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João...


O espinho da rosa feriu Zé
(Feriu Zé!) (Feriu Zé!)
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa
Ô, José!
A rosa e o sorvete
Ô, José!
Foi dançando no peito
Ô, José!
Do José brincalhão
Ô, José!...


O sorvete e a rosa
Ô, José!
A rosa e o sorvete
Ô, José!
Oi girando na mente
Ô, José!
Do José brincalhão
Ô, José!...


Juliana girando
Oi girando!
Oi, na roda gigante
Oi, girando!
Oi, na roda gigante
Oi, girando!
O amigo João (João)...


O sorvete é morango
É vermelho!
Oi, girando e a rosa
É vermelha!
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi, girando, girando...


Olha a faca! (Olha a faca!)
Olha o sangue na mão
Ê, José!
Juliana no chão
Ê, José!
Outro corpo caído
Ê, José!
Seu amigo João
Ê, José!...


Amanhã não tem feira
Ê, José!
Não tem mais construção
Ê, João!
Não tem mais brincadeira
Ê, José!
Não tem mais confusão
Ê, João!...


Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!...