Qual o limite?
Por Hora do Povo Publicado em 30 de abril de 2019
JANE TUTIKIAN - vice-reitora da UFRGS
Enquanto países que buscam o desenvolvimento e o
bem-estar do povo investem na educação, o Brasil escolhe exatamente o caminho
contrário e com alvo definido: a universidade pública.
As acusações são de toda ordem, da corrupção à
ideologia. De repente, todos os gestores se tornaram corruptos e todos os
professores universitários se tornaram inimigos do Brasil.
A origem de tudo isso tem nome: medo. Medo de um povo
que tenha acesso a uma educação de qualidade, porque ela faz pensar e o
pensamento é, em si, detonador de transformações. Transformações para o
desenvolvimento do país, transformações para a justiça social.
O medo nega, desqualifica e exclui. Portanto, é
preciso eliminar a área das Humanidades das universidades públicas, é preciso
tirar do caminho a Filosofia e as Ciências Sociais, porque “não dão retorno imediato”.
Desde quando o papel da universidade é gerar retorno imediato?
Universidade é mais, muito mais do que isso: é
patrimônio da sociedade, é onde se produz conhecimento, e as Humanidades têm um
papel fundamental nesse contexto. Pode-se imaginar uma vida sem literatura, sem
artes, sem história, sem pensamento? Uma vida sem cultura!
Além da escassez de recursos para manter a
universidade pública, gratuita e inclusiva, agora, querem nos tomar – de nós
todos – o direito de sermos humanos e de sonharmos com um futuro melhor, estão
querendo nos tirar a capacidade de pensar, quando pensar não é tão pouco assim
que possa ficar à margem do que somos! O centro da cultura é o próprio ser
humano! Roubar-nos esta capacidade é reduzir-nos a marionetes de um sistema que
sequer disse a que veio, a não ser pela destruição da universidade pública.
Um país sem universidade tem aprofundadas as
desigualdades sociais. Uma universidade sem a área das Humanidades nos reduz ao
personagem de Tempos
Modernos, do Charles Chaplin, apertando parafusos no ar. É do que o
Brasil precisa, pessoas capazes de fazer e incapazes de pensar sobre aquilo que
fazem?
Há que haver limites! E eles só serão dados pela
sociedade.
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