19/10/09

E assim nasceu o "pique-pique"...

E assim nasceu o "pique-pique"...

Adriano Marrey*

As gerações de bacharéis veteranos concorreram para a formação do mais rico folclore acadêmico, ou melhor, para o que se chama de suas "tradições".

Foram os estudantes de uma turma próxima de 1930 os que criaram, um dia, o popular "pique-pique", que atualmente todos cantam nos dias festivos.

Poucos conhecem a sua singular origem. Escreveu Guilherme de Almeida, a que se reportava o querido amigo Lauro Malheiros, em seu comovente livro de memórias intitulado "Rosas no Inverno", que três estudantes, da turma que colaria grau em 1927, eram então amigos inseparáveis nas horas de boemia. Um deles – Ubirajara Martins de Souza – usava um extraordinário bigode de pontas finas e retorcidas para cima e por isso era apelidado de "pique-pique". Outro, era Mário Ribeiro da Silva, "inteligência viva e afinado senso de humor" e que apreciava desconsertar os interlocutores mais austeros, interdizendo no meio das conversas frases desconexas, como esta : "Veja você, heim? Meia hora...". O terceiro era Aru Medeiros; e juntos constituíam o grupo do "Pudim"...

Numa noite em que bebericavam o seu "chope", no bar Pérola do Douro, sendo aniversário de Ubirajara, Mário o brindava, gritando: "Pique-pique, pique-pique, pique-pique". Retrucou, então, Ubirajara: "Meia hora, meia hora, meia hora". Daí, para emendar com "Rá-rá-tchin-bum", foi um relâmpago. Estava criado o hino do "Pudim", o grito de guerra de toda a estudantada.

Recordou Guilherme de Almeida que "no dia seguinte visitava a Faculdade de Direito o Marajá de Kapurtala. Entre outras manifestações, recebeu nas bochechas ilustres, berrado de perto, o primeiro 'pique-pique' oficial. Gostou e manifestou alto interesse pela harmonia e sugestiva língua falada no Brasil"...

Concluiu Lauro Malheiros – "foi assim que nasceu o 'pique-pique' em São Paulo. Entre estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco".

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* Extraído da oração proferida na solenidade realizada na Faculdade de Direito de São Paulo, pela OAB/SP, em homenagem aos bacharéis em Direito com mais de 50 anos de exercício. O discurso foi depois impresso com o título de "Saudade das Arcadas".


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